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No último dia 3 de maio o Corinthians consagrou-se campeão paulista de 2009, mesmo empatando a partida contra o Santos Futebol Clube por 1 a 1. O time da capital já possuía vantagem sobre o adversário do litoral paulista, porque, na partida anterior – que começava a decidir o título - fez 3 gols contra um. Quem marcou esses gols, que praticamente garantiram a vitória? Ele mesmo: o jogador rotulado de gorducho e fora de forma, Ronaldo Fenômeno.

A trajetória dele desde que entrou no time brasileiro foi polêmica e cercada de especulações por parte dos torcedores, adversários e imprensa. Mas, com o passar do tempo, ele demonstrou que mesmo apagado durante as partidas, basta a bola cair no pé dele que dá chutes certeiros. Passados os comentários iniciais, saiu dos títulos pejorativos para se tornar herói.

Alguns profissionais do ambiente corporativo têm perfil semelhante ao do jogador. No dia-a-dia não tem a notoriedade de outros tantos profissionais que sabem fazer marketing pessoal, mas basta um problema cair em suas mesas que o resolvem, não só rapidamente, como de forma acertada.

São os Ronaldos corporativos, cada vez mais procurados pelas empresas, principalmente para ocupar cargos de liderança – de atacantes. São eles que, discretos, realizam suas tarefas diárias, batem as metas estabelecidas, e mais: estão prontos e preparados, para resolver qualquer situação fora do script que possa aparecer.

O especialista em Recrutamento da Robert Half, Sócrates Mello, também já jogou futebol profissional em times dos Estados Unidos, Suécia e Dinamarca. Por coincidência, conheceu o jogador Ronaldo numa passagem por Madri, junto a outros atletas. Conhecedor tanto do ambiente esportivo quanto das necessidades das organizações, afirma que há muitas semelhanças entre as duas áreas.

“Existe o chamado dom, porque a forma como um líder decide e enxerga as informações transmitidas a ele é diferenciada. Isso porque, só para esse profissional chegar a esta posição, já demonstrou durante a carreira dele que tem posições maduras e fez a empresa confiar nele para a tomada de decisões. Ninguém vai colocar um atacante ruim na frente do gol. Mesma coisa no ambiente corporativo. É somado o know how, a inteligência e o estudo acadêmico para formar um profissional assim”, pontua.

Mas pondera: “Também existe um detalhe importante: não é que o jogador Ronaldo não apareça, mas sim que existe toda uma equipe jogando para deixá-lo na cara do gol. Numa empresa é igual. Geralmente os cargos de pessoas que precisam decidir são cargos de liderança, mas para que eles consigam tomar as resoluções corretas, tem de haver todo o suporte de uma equipe por trás”.

Refletindo sobre essa opinião, é possível denotar que para ser um líder que toma decisões acertadas é necessária a conjunção de fatores como formação, competências e habilidades - profissionais e comportamentais - experiência e talento. Mas o problema pode habitar quando, fora de um cargo de liderança, há um profissional com perfil de decisão, mas que não é descoberto porque não se envolve com os demais colegas na empresa.


“Muitas vezes existem profissionais que são indispensáveis, mas quase não aparecem, tanto pela natureza do trabalho como também por falha na comunicação. Por mais que um profissional trabalhe nos bastidores sem ser notado, é importante que tenha um bom relacionamento com os colegas e uma comunicação eficaz para que todos saibam o que ele faz e reconheçam a importância disso. Muita gente pode achar que isso é vaidade, mas não é. Quando uma organização conhece o papel de cada um no time, as pessoas trabalham sabendo a quem recorrer na hora da necessidade”, pondera o palestrante, consultor e autor de livros sobre gestão e marketing, Mário Persona.

Se você é um Ronaldo, mostre-se!

Dentro dos ambientes corporativos nem sempre é fácil demonstrar que você tem perfil, e competência suficiente, para encontrar soluções sobre determinado assunto. E nessa falta de espaço, a frustração profissional é grande, assim como a dificuldade da empresa encontrar esse perfil no mercado.

Um dos fatores que pode emperrar esse processo é a burocratização e a cultura das organizações que, ao mesmo tempo em que procuram profissionais com perfil decisório, têm medo de perder espaço para ele.

“As gestões antigas nem sempre sabiam valorizar a presteza, e a gestão medrosa e centralizadora não gosta muito de pessoas que resolvem rapidamente as coisas, sem passar por todos os degraus e processos burocráticos, porque vêem nesses profissionais uma ameaça. Falo de empresas em que alguém que demonstre ser mais capaz do que o chefe corre o risco de perder o emprego”, analisa Persona.

Sócrates concorda em partes com a afirmação anterior, pois é mais otimista.

“Há empresas que chamo de top down, que não dão oportunidade do profissional se mostrar, o que acaba frustrando-o. Mas, em outras empresas cabe ao profissional, quando visualizar uma oportunidade, demonstrar opiniões embasadas e que façam sentido. Se ele acertar na primeira vez, ótimo! Já vão começar a vê-lo de forma diferente. É uma questão de postura e de enxergar o cavalo selado passando”.

Mais semelhanças

Como todo cargo de decisão envolve duas possibilidades, o erro ou acerto, e com isso, consequências das mais diversas proporções, pode acontecer situações ainda mais parecidas com uma final de futebol: ir do louvor ao fracasso!

“Já entrevistei diretores financeiros que passaram por grandes empresas, li sobre o histórico deles nos jornais e eles só falaram pontos positivos até que, na última decisão que tomaram, erraram porque o cenário do mercado mudou bruscamente. Então, a empresa não reconheceu todos os acertos que obteve numa carreira longa, e sim a última decisão que pôs muito dinheiro a perder. No futebol também é assim: o jogador pode ter feito uma ótima partida, ter feito dois gols, mas a decisão foi para os pênaltis e ele perdeu. Pronto! Ninguém vai lembrar-se dele no jogo e sim do pênalti que não marcou”, enfatiza Sócrates.

Felizmente os recrutadores, como Sócrates, reconhecem mais a trajetória como um todo do que as decisões pontuais na hora de apresentar um perfil de profissional para as empresas. Por sorte também agem como headhunters em busca de novos talentos, talvez adormecidos.
“Ninguém se preocupa com a receita do bolo, mas é todo um trabalho em equipe que faz a diferença na hora do líder tomar a decisão. Desde o estagiário até o analista, um detalhe que escapa ao olhar atento pode influenciar a decisão final. Infelizmente só os atacantes e líderes ganham notoriedade e maiores salários, porque são eles que fazem os gols e a alegria do público, mas deve-se lembrar de que todos fazem parte do time e ajudam na tomada de decisão”, conclui.

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